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20/02/2010

Surrealismo

 
 
 
 
 
Surrealismo



O Surrealismo é a última das Vanguardas Européias, que sucede ao Dada radicalizando suas propostas de liberdade, anti-convencionalismo e anti-tradição dos valores da cultura ocidenta. Traz à tona os impulsos das regiões ainda inexploradas da mente. Recorre aos temas fornecidos pelo inconsciente e subconsciente: o acaso, a loucura, os sonhos, as alucinações, o delírio ou o humor. Corrente revolucionária trouxe grandes contribuições com novos meios e fontes de inspiração artística e o fazer artístico como o Frottage, Colagem, Assemblage, Fotomontagem, Pintura automática entre outros.

Teve origem com a publicação do “ Manifesto do Surrealismo” de André Breton, em 1924. Giorgio de Chirico, com sua Pintura Metafísica, Max Ernst, Paul Klee, André Masson, Joan Miro, Jean Arp, Picabia, Picasso, René Magritte, Salvador Dali, Marc Chagall, Marcel Duchamp, Alexander Calder, o fotógrafo Man Ray, os poetas Tristan Tzara, Paul Eluard, Louis Aragon, Guillaume Apollinaire o o cineasta Luis Buñuel, entre outros.

Após a II Guerra, apesar da dispersão do movimento, realizam-se duas grandes exposições surrealistas em Paris: na galeria Maeght, em 1947, e na galeria Daniel Cordier, em 1959/60. Neste período houve uma grande revitalização do Surrealismo, com o movimento PHASES, emergente em 1954, herdeiro do Grupo CoBra.

Eu experimento as collagens, brincando com o computador, faço essas misturas
nos meus temas, com fotografias ou recorte delas.

O desejo

 
 
 
 
 
 
O Desejo



O Desejo sempre foi um universo oscilante, na idéia de expansão e contração.

O homem é um cosmos, e como um singular organismo vivo, respira e expira; oscila- expande e contrai, vai à frente ou volta atrás em seus desejos.

Atuar um desejo é circunscrever o corpo e a mente nesta corda bamba entre o real e o imaginário.

Nossa vida carrega o encontro marcado com o desejo e a realidade, essa linha tênue e tão poderosa em nossa vida de equilibrista. Atravessamos uma porta e ninguém deseja quebrar o nariz. Nosso problema, bem se vê, é não se machucar.

Ser equilibrista, exige deslizar cada pé bem devagar nesta corda bamba. Há porém, tombos e tombos. Se o pé no arame falseia, por nela se apoiar demais, ou por não acreditar que vai chegar, cambaleamos, e lá se foi a possibilidade de realizar o desejo.

Outra solução que tentamos é fincar o pé na realidade, e isso faz com que enredamo-nos por um lado apenas concreto e tão pleno de regras da razão, e confesso quase ninguém chega do outro lado da corda.

Desejar é criar originalidade, ficar pendurado até o pescoço, quase caindo, mas arrastando a corda como um violino nos ombros e sonhar sua música, enquanto atravessa essa difícil corda bamba... e nesta festa instaurar uma deliciosa transgressão. E o segredo... bem... o segredo é deixar o corpo mais leve .

Quando se vive como ser desejante, vamos tirando linhas defensivas da nossa frente, para garantir a permanência na superfície da fé ( o acreditar em si), e assim.... num piscar de olhos, milhas e milhas de distância se tornam tão próximas. Diluim-se os medos, e demarcamos um trajeto.

Você só é o seu desejo quando atravessou sua corda bamba, sua verdade de alma, com um pé à frente do outro, no seu ritmo ,e ao começar sua viagem, vai-se descobrindo forças de onde não parece estar ou ter. Mas acredite o deseja dá vida às coisas.



JU Gioli

Modos de ver @2

 
 
 
foto:  JU Gioli

Modos de ver

 
 
 
 
 
Modos de Ver (2)



Já a alguns anos, entre os meses de junho a setembro, programo minha viagem para a Itália, sempre no verão; férias, família, calor, montanha e mar. Itens que não excluo da bagagem. O ano passado (2009), ainda sobrevoando a cidade de Roma, dei-me conta de uma imagem que nunca saiu da minha memória, uma pintura de Cézanne, que sempre me acompanha.

O horário de vôo de São Paulo favorece essa possibilidade de embarcar à noite e chegar maravilhosamente cedo, com o amanhecer nos telhados, na umidade dos campos, dos movimentos mínimos de uma manha preguiçosa. E como eu, depois de tanto tempo de vôo, ainda meio adormecida, espero o côncavo do sol na janela.

E, como uma cena surreal, vou saboreando esta cidade eterna, do alto da minha poltrona, como expectadora, onde cada detalhe meus olhos anotam, curiosos, no estranhamento de estarem num lugar tão diverso e, terem deixado para traz, o cotidiano urbano do transito, dos edifícios, e da ansiedade natural de toda viagem.

A sensação deste amanhecer neste lugar estrangeiro, com a luz tímida de energia a despontar ainda na janela do avião, sob o céu clareando, como página de um livro ainda não aberto, ou como uma folha de seda ainda sobre suas paisagens, é inebriante. Encosto minha cabeça na poltrona, assaltada de prazer. Vou pelo ar, nesta confusão de emoções e de horários. Mas quem se importa.

Neste meu idílio, tal pintura de Cézanne, pouco conhecida, intitulado os “Telhados” (1877), e que guardo com carinho no meu caderno de viagem, vai se revelando aos poucos, trazendo esse lugar e esta sensação universal de não ser lugar nenhum, ou todos ao mesmo tempo. A tela possui as formas dissolvidas pela luz, e estão transpostas para esta atmosfera flutuante, mágica e incerta, o que torna a localização uma incógnita, afinal poderia ser qualquer lugar .

E, nesta dimensão de sobrevoar uma cidade pela manhã, na modulação de uma atmosfera que envolve os objetos e as cores, converso com os meus pintores prediletos: Cézanne, naturalmente, assim como Vollard, e Pissarro, paisagistas de alma pura.

As imensas variações de ocres, terras de sienas, azuis e violetas se misturam nesta paisagem. O sol me espera pelas montanhas, até Nocera Umbra, região ao norte, onde vou permanecer algum tempo, sentindo a sintaxe deste pintores, respirando a escrita íngreme dos vales. Aceito o meu destino, em abandonar a poluída cidade, para essa aragem quente, debruçados desta atmosfera de girassóis e trigo, onde os telhados teceram o seu tempo.

Respiro, movo-me desta confusão do aeroporto, Na porta, posso atar minha malas e chegar ao gosto das púrpuras de Cézanne.

Ensaio sobre a Cegueira

Ensaio sobre a Cegueira





Dirigido por Fernando Meirelles ( de “ O Jardineiro Fiel” e “ Cidade de Deus”, é baseado na obra do escritor português José Saramago. Conta a história de uma inédita epidemia de cegueira, inexplicável, que se abate sobre uma cidade não identificada. Tal “cegueira branca” – assim chamada, levam as pessoas infectadas a verem apenas uma superfície branca, leitosa.

Cegueira que espalha-se por entre as pessoas e, lentamente, pelo país. Todos acabam cegos e reduzidos a organizar suas necessidades básicas, ajudados por uma única mulher não infectada.



O ensaio é uma obra aberta a diversas interpretações, e aponto algumas que considero importante como tema de reflexão:



A surpresa e angústia repentina diante de uma cegueira, mostra a incapacidade humana de lidar com o perigo diante do desconhecido, que me fez lembrar os textos de Michel Foucault ( 1926-84), filósofo francês que, entre outras coisas, estudou a relação do homem com a loucura e a prisão. No filme isto se evidencia no confinamento, que gerou um estado de anarquia, de caos absoluto. Onde as pessoas não tem nada a obedecer além do instinto de sobrevivência.



Outra leitura, seria à disputa do poder, presença marcante em qualquer organização. Ela nasce de um princípio básico: o domínio do outro, pelo medo, pela ameaça, ou pela simples organização de idéias. Qualquer grupo que se forma, há um líder, e o filme nos mostra esse dois pólos divergentes: o organizador e o destruidor.



Portanto, o filme não é sobre cegos, mas da metáfora sobre a cegueira para falar da omissão, da solidariedade, e dos pressupostos éticos de todo ser humano, que na falta deles, geram monstros.



A fotografia é belíssima, e reforça toda a carga dramática do medo e do abandono gerada por essa epidemia. Simulando ao meu ver a própria cegueira, abusando do brilho intenso, luminoso e de cores claras, brancas. E esse recurso, ao meu ver, dá todo o tom do filme para provocar realmente uma reflexão, onde o expectador entra no mesmo estado de desorientação e desconforto experimentado pelos personagens, e são guiados pela excelente atuação de Juliana Moore, em sua própria transformação psicológica durante a seqüência do filme.



Como conclusão penso que a vida real de dá em meio a este equilíbrio instável e cambiante, entre o ver e o não ver, entre o vício e a virtude , sempre a nos levar a reconhecer que as sombras existem, que precisamos reconhecer a maldade humana e sua fragilidade, que não somos bonzinhos e que precisamos reconhecer nossos males.





JU Gioli

19/02/2010

vida líquida

 
 
 
 
 
 
Vida líquida





Sempre e quase sempre

É preciso certa lucidez

Para enfrentar a loucura, e mandar da teoria a prática todos os demônios. Esse entusiasmo arbitrário de criar saídas.

A idéia. A idéia é sempre a mesma: pôr os pés pelas mãos, e desatar por aí, todos os

Nós.

Varrer o pó acumulado, e seguir.

Sempre e quase sempre onde dúbios são os movimentos, levitando na liquidez dos pensamentos.

Esta malha incerta que se faz de desejos.

Uma razão das sem razões que temos.

Planos submersos e antropofágicos que nos devoram.

A vida ao alto, fixa entrelinhas num espaço sem tempo, onde

Tudo escorre pelas mãos, mas estamos sempre querendo deter.







A dor....

 
 
 
 
 
 
 
A dor dos outros



Estamos diante de um século tecnológico, ou vivendo neste que podemos considerar capaz de fazer inveja os séculos passados. Estamos à volta com telefones, geladeiras, internet, câmeras fotográficas, vídeos, TVs e tantos outros itens, que se tornaram parte integrante do nosso cotidiano, e nem nos damos conta das inovações, cada vez mais modernas dos chips última geração.

Hoje, nem podemos imaginar um mundo feito apenas de torradeiras, sem microondas ou computadores, e corremos atrás das novidades como abelhas no mel, quando hardwares e softwares são lançados, antes mesmo de ter tempo para aprender a usá-los, já estamos à volta em instalar novos e novos cabos.

Hoje, acompanhamos um cena de seqüestro pela TV, como uma novela, porque um seqüestro ganha referência e ibope, e somos expectadores passivos desta mídia. E, assim vemos os próprios assassinos ganharem seus quinze minutos de fama ( ou mais).

E, aos nos tornamos expectadores passivos, não refletimos sobre a representação cotidiana da violência, onde o perigo é a falta de profundidade, porque lugar comum, a violência está sem parâmetros.

A cobertura intensa da violência é capaz de fazer inveja as estrelas do show biz.

Tudo é calculado, sem scripts , mas com celebridades anônimas que vamos conhecendo, em sua overdose de ângulos nesta hiper- realidade visual auditiva. E, sendo apenas expectadores, aceleramos e promovemos audiência em escala nacional.

Fiquei imaginando, aquele seqüestrador com suas vitimas, que foi caso recente no país, ali sentado em sua sala, com o controle na mão, assistindo sua própria vida sendo esmiuçada, vendo sua família, seus amigos, a polícia na sua porta, enquanto saboreava uma pizza.



Com será que ele, vendo suas imagens tão amplamente difundidas até a exaustão, estava se sentindo?

E nós diante da dor dos outros?

Uma jovem foi morta neste episódio , será que estamos tão anestesiados, a ponto de apenas mudar o canal e ver o outro, que pegou outros ângulos em diferentes momentos. Não sentimos náusea, dor ou culpa, mas apenas conferimos ter visto mais uma história de final infeliz, como tantas outras histórias de atores anônimos deste século ultra tecnológico.







A água em nós

 
 
 
 
 
 
 
A água em nós






A água corre sempre, a água cai sempre, é pura metamorfose entre os elementos, dissolve, assimila. E é por ela que os nossos devaneios adquirem substância. Quem sonhou perto do mar, onde o azul dos segredos se revelaram, sabe dos seus encantos.


A água: contemplação que se aprofunda, fluidez e maleabilidade que transporta.


Sabem os poetas, que a linguagem das águas é pura realidade: dos regatos e dos rios inspiradores, entre o mar e as ondas, entre o nosso sentir e sua exteriorização.


Somo seres líquidos, de infinitas combinações: de águas clara, primaveris, correntes, amorosas, tempestuosas, sensuais.


As águas vivas em nós, operando na síntese do nosso olhar, no olhar das coisas suaves, tanto graves, tanto pensativas: é um olhar da água que nos comove.


Em nosso olhar, é a água que sonha, luz líquida, irisada e fluída que vê, ora se inquieta, sofre suas delícias, perde-se, abisma-se no sentir das suas volúpias, canta ou faz de si lágrimas inquietas, e sorrisos de pura cor aniz.


A realidade dual







A realidade dual




O filósofo Aristóteles, em seu cosmo centrado na terra, dividiu a realidade física em duas partes: abaixo da lua e da lua para cima. Abaixo da lua, tudo é composto de quatro elementos: terra, água, ar e fogo. Esse era o mundo das transformações e mudanças. E da lua para cima, tudo é feito de uma quinta substância, ou essência: - o éter. E o Éter, segundo ele é imutável, eterno.

E, Deste universo dual temos a progressão para o universo quântico, uma progressão científica de descobertas: - o mundo das incertezas, das probabilidades, uma teoria que descreve as interações entre as pessoas e a terra, entre a terra e o sol: uma geladeira ligada pode alterar a camada de ozônio, o aquecimento global podem gerar desconfortos nos oceanos.

Portanto, da sustentável liberdade de ser, passamos para a relatividade, dando aos indivíduos a descontinuidade do tempo e do espaço. Se é isso que entendo de transformações que a nossa atualidade presencia em grau elevado: somos co-autores dentro desse universo quântico.

O ser no mundo se atualiza, deixa de ser passivo, e é também um outro elemento. Existimos junto das coisas, no aqui e agora, mas também no ser-lá. Este ser-lá, que deixa rastros para a geração futura, que eu acrescento como o ser- virtual, ou o do vir-a- ser de nossos enredos, no sentido virtual de uma geografia de movimentos, que nesse ondulante olhar sobre o já ido, outros momentos sobrevém como atestado de óbito do que se foi. E, na permuta do olhar que se acrescenta de novas informações, um outro território, enquanto realidade se forma, enquanto busca e confronto.

17/02/2010

a memória

 
 
 
 
 
 
 
 
A memória



Um dia senti que a memória se sente, se impõe, deixam marcas. Como uma nave do tempo da qual podemos entrar para observar esse tempo que se respirou um passado.

Porque a memória é um substantivo extenso. Não importa o quanto nos afastemos do seu centro de gravidade, somos invariavelmente, atraídos ao seu núcleo, por sua força invisível que nos atraí, como as ondas pelos ventos, com um som agudo atravessando uma manhã silenciosa.



Foi o que inexplicavelmente me ocorreu alguns dias atrás, quando estava no aeroporto. E, nesta memória recupero, sem saber como, a imagem de minha avó. Quando num dia remoto da minha infância eu a conheci.

Neste dia, ela estava empurrando desajeitada mente um carrinho de bagagem do aeroporto, talvez porque em um lance de olhar, folheando uma revista à espera de meu vôo, tenha olhado para alguém com suas características, não sei, ou talvez por esses labirintos que trafegam os nossos afetos, ela ressurge em minha mente.



Minha avó : - Uma senhora alta, imponente, vestida com um velho e surrado sobretudo de lã. Olhei para ela com interesse. Estava como um viajante recém-chegado, olhando para todos os lados. Depois percebi que meu pai correu até aquela mulher, antes mesmo da porta do saguão abrir, abraçaram-se e o vi chorar. Vinte anos ou mais os separaram. Vinte anos de um mar distante.

Os lábios da minha avó se transtornam, ela treme, assim como todo o seu corpo. Eu não consigo entendê-la quando ela se curva e me beija, falando algumas palavras desconexas. Era uma língua diferente. Meus irmãos mais novos se assustam, meus pais tentam acamá-los dizendo ser a nona quem estava aqui.

Mas como poderia saber? Eu, com os meus dez anos de idade, olhava para aquela mulher, com seus cabelos lustrosos e brancos, com botas de cano alto, um casaco estranho, longo, quente, que enrodava-me enquanto estava a seu lado. Olhava e não entendia.

E é inegável que todo o processo começou com este olhar. O olhar que abre um caminho, uma vereda de sugestões, que percorria pela minha surpresa e curiosidade. Onde não sei de onde, testemunhei o primeiro olhar amoroso daquela mulher. Não poderia esquecer deste olhar. Não poderia esquecer de tudo isso, ao relembrar este olhar de encantamento, a vagar por mim. Como um silêncio especial, um silêncio com o que registramos sem que nos mostrem ou expliquem, como se o tempo ali se fraturasse e corresse em várias direções a uma só vez, e se fixasse num ponto de convergência, num tempo puro, nem verbal, nem gestual, apenas na singularidade de uma emoção. Eu, com os meus dez anos, pude entender a necessidade desta minha avó em querer ver o seu filho, seus netos, sua prole.



Fixo-me novamente nas recordações, no que sei de papai. Ele estava atemorizado em ver sua mãe, que corajosamente decidiu visitá-lo. Ela deixando sua vila, seus outros filhos que insistiram em fazer com que ela desistisse da viagem. Ela com oitenta e cinco anos, sozinha, com uma minúscula valise nas mãos, atravessando horas de vôo, acostumada apenas a andar de trem, veio até nós .

Depois de assear-se com um imenso lenço, abriu sua bolsa, e mostrou um pequeno embrulho que trazia nos braços, entregando ao meu pai. Ele desembrulhou ali mesmo, no saguão do aeroporto, e uma sonora gargalhada inundou o espaço, era como um presente inesperado do céu: um salame feito meses antes por ela e suas tias, um queijo de cabra e uma vasilha contendo um doce, uma mistura de maça e uvas passas, coberta com uma fina camada de massa folhada.

Entramos no velho stud baker , comendo os doces ali mesmo, e vendo minha avó paterna franzir o cenho, dizendo que o vinho que ela trazia dentro do seu velho casaco, a alfândega não deixou passar, para desespero do meu pai. Ela, que dizia tudo em italiano, e por isso, o meu pai tornou-se o intérprete oficial daquele encontro. Coisa bastante complicada, para nós que tínhamos que discernir de toda a emoção a diferença entre “adesso, siamo insieme”, das palavras lagrimosas do meu pai. Ela simplesmente fixava em nós seus olhos mais azuis, e sorria ,e não precisava de nenhum gesto ou palavra para nos mostrar sua felicidade.



Ela permaneceu conosco durante dois meses, faltando quinze dias para voltar para casa, ela teve um problema com sua saúde. Ela dizia que sentia uma pedra no estômago e que seu peito doía. Fizemos de tudo com a sua internação, e dois dias depois ela vem a falecer. Hoje penso nela como um pássaro, que veio buscar abrigo num ninho e permanecer aqui, do outro lado do oceano.

Veio nos mostrar o tamanho de uma saudade.


JU Gioli













Vertigens

Vertigens




Foi uma manhã, hesitei em abrir os olhos diante do espelho. Não vês que ainda dormem? Melhor mantê-los lentamente imersos nas rendas delicadas do sonâmbulo desejo, que ainda absorviam tudo com suas bêbadas vertigens.

Como alguém ainda refém dos sonhos, na rotação magnética dos espasmos noturnos, entre as ranhaduras do chão árido que meus pés sentiam – procurei preservar minhas constelações de nuvens.

E, atraída pelo ruído da água caindo da torneira, percorri o limite desta inconstante e frágil existência, sentindo uma outra sonoridade em meu corpo, na fragilidade do que antes lento, se instalou de suspiros e prazer, soando na superfície ilógica-letal da minha pele, ao sabor do gosto de carícias, que ficam, nesta eclipse de poros; na textura do invisível, e como pretexto para me ver nua e real diante do espelho.

Talvez seja isso o prazer, esse meridiano inexplicável, onde um abismo se instala e lá a emoção permaneça, com o seu sabor de novidade, percorrendo lentamente o olhar já cansado de ser, e se recupere de outro ver, este ver que indizível tem gosto de infinito que dura um segundo, nada mais que um segundo de pura eternidade.





JU Gioli